Seguro e mudanças climáticas: como proteger, incluir e transformar
Ao reduzir a percepção de risco e garantir estabilidade financeira, o setor ajuda a viabilizar investimentos sustentáveis e atrair capital público e privado. Por: Ivani Benazzi (*)
Atransformação climática é uma realidade presente, cujos impactos atingem com força desigual pessoas, territórios e modelos de negócio. Nesse cenário, o setor segurador tem a oportunidade – e a responsabilidade – de exercer um papel estratégico. Mais do que proteger perdas, o seguro pode se tornar um elo entre risco, capital e oportunidades.
Projetos voltados à transição energética e à infraestrutura resiliente ainda enfrentam entraves para se viabilizar, principalmente pela percepção de risco. O seguro, ao oferecer previsibilidade e estabilidade financeira, torna-se essencial para destravar o financiamento climático.
Um relatório do World Economic Forum (2024) destaca que mecanismos de transferência de risco, como apólices estruturadas e soluções de resseguro, são decisivos para mobilizar capital em projetos sustentáveis, especialmente nos modelos de blended finance, que combinam capital público com privado. Ao reduzir a volatilidade percebida e melhorar a classificação de crédito, o seguro contribui para atrair investidores públicos e privados.
Esse protagonismo se estende à inovação tecnológica. À medida que novas soluções, como veículos elétricos e sistemas fotovoltaicos, surgem como alternativas sustentáveis, o seguro tem o papel de acelerar sua adoção. Ao desenvolver coberturas específicas para tecnologias emergentes, o setor não apenas responde a uma demanda, mas ajuda a moldar um novo mercado – mais seguro, viável e escalável.
Ao mesmo tempo, é fundamental reconhecer que a crise climática impacta com mais intensidade quem tem menos acesso à proteção. A inclusão de seguros populares, distribuídos por canais capilarizados, amplia o alcance da proteção e fortalece a resiliência de comunidades vulneráveis. Também é preciso investir em respostas operacionais ágeis para situações extremas, assegurando o pagamento rápido de indenizações em cenários de calamidade.
Segundo o Swiss Re Institute, as perdas econômicas globais com eventos climáticos em 2024 ultrapassaram US$ 300 bilhões, e menos da metade estava segurada. Esse dado reforça a urgência de ampliar a proteção.
O seguro, nesse novo contexto, deixa de ser apenas uma resposta a perdas e passa a ser parte da solução – uma ferramenta de transição para um futuro mais sustentável, inovador e justo.
(*) Ivani Benazzi é superintendente de Sustentabilidade do Grupo Bradesco Seguros.